sexta-feira, 13 de julho de 2012

SextaTrezedeJulho

Pode uma folha, quando cai da árvore no inverno, sentir-se derrotada pelo frio?

A árvore diz para a folha: “Este é o ciclo da vida. Embora você pense que irá morrer, na verdade ainda continua em mim. Graças a você estou viva, porque pude respirar. Também graças a você senti-me amada, porque pude dar sombra ao viajante
cansado. Sua seiva está na minha seiva, somos uma coisa só.”

Pode um homem que se preparou durante anos para subir a montanha mais alta do mundo sentir-se derrotado quando chega diante do monte e descobre que a natureza o cobriu com uma tempestade? O homem diz para a montanha:

“Você não me quer agora, mas o tempo vai mudar e um dia poderei subir até seu topo. Enquanto isso, você continua aí me esperando.”

Pode um jovem, quando é rejeitado por seu primeiro amor, afirmar que o amor não existe? O jovem diz para si mesmo:

“Encontrarei alguém capaz de entender o que sinto. E serei feliz pelo resto de meus dias.”

Não existe nem vitória nem derrota no ciclo da natureza: existe movimento.

O inverno luta para reinar soberano, mas no final é obrigado a aceitar a vitória da primavera, que traz consigo flores e alegria.

O verão quer estender seus dias quentes para sempre, pois está convencido de que o calor traz benefício à terra. Mas termina aceitando a chegada do outono, que permitirá que a terra descanse.

A gazela come as ervas e é devorada pelo leão. Não se trata de quem é o mais forte, mas de como Deus nos mostra o ciclo da morte e da ressurreição.

E neste ciclo não há vencedores nem perdedores: apenas etapas que devem ser cumpridas. Quando o coração do ser humano compreende isso, fica livre. Aceita sem pesar os momentos difíceis e não se deixa enganar pelos momentos de glória.

Ambos vão passar. Um irá suceder o outro. E o ciclo continuará até nos libertarmos da carne e nos encontrarmos com a Energia Divina.

Portanto, quando o lutador estiver na arena – seja por escolha própria, seja porque o insondável destino o colocou ali –, que seu espírito tenha alegria no combate que está prestes a travar. Se mantiver a dignidade e a honra, ele pode perder a batalha, mas jamais será derrotado, porque sua alma estará intacta.

E não culpará ninguém pelo que está acontecendo com ele. Desde que amou pela primeira vez e foi rejeitado, entendeu que isso não matou sua capacidade de amar. O que vale para o amor vale também para a guerra.

Perder uma batalha, ou perder tudo o que pensamos possuir, nos traz momentos de tristeza. Mas, quando eles passam, descobrimos a força desconhecida que existe em cada um de nós, a força que nos surpreende e aumenta o respeito por nós mesmos.

Olhamos ao redor e dizemos a nós mesmos: “Eu sobrevivi.”

E nos alegramos com nossas palavras.

Apenas os que não reconhecem essa força dizem: “Eu perdi.”

E se entristecem.

Outros, mesmo sofrendo com a perda e humilhados com as histórias que os vencedores espalham a seu respeito, permitem-se derramar algumas lágrimas, mas nunca sentem pena de si mesmos. Sabem apenas que o combate foi interrompido
e que no momento estão em desvantagem.

Escutam as batidas de seu coração. Reparam que estão tensos. Que têm medo.

Fazem um balanço de sua vida e descobrem que, apesar do terror que sentem, a fé continua incendiando sua alma e os empurrando para a frente.

Procuram saber onde erraram e onde acertaram.

Aproveitam o momento em que estão caídos para descansar, curar as feridas, descobrir novas estratégias e equiparem-se melhor.

E chega um dia em que um novo combate bate à sua porta. O medo continua, mas eles precisam agir – ou permanecerão para sempre deitados no chão. Levantam-se e encaram o adversário, lembrando-se do sofrimento que viveram e que não querem viver mais.

A derrota anterior os obriga a vencer desta vez, já que não querem passar novamente pelas mesmas dores.

E se a vitória não for desta vez, será na próxima. E se não for na próxima, será mais adiante. O pior não é cair, é ficar preso ao chão.

Só é derrotado quem desiste. Todos os outros são vitoriosos.

E chegará o dia em que os momentos difíceis serão apenas histórias que contarão, orgulhosos, para aqueles que quiserem escutar. E todos os ouvirão com respeito e aprenderão três coisas importantes:

A ter paciência para esperar o momento certo de agir.

Sabedoria para não deixar a próxima oportunidade escapar.

E orgulho de suas cicatrizes.

As cicatrizes são medalhas gravadas com ferro e com fogo na carne e deixarão seus inimigos assustados, ao demonstrar que a pessoa diante deles tem muita experiência de combate.

Muitas vezes isso os levará a buscar o diálogo e evitará o conflito.

As cicatrizes falam mais alto do que a lâmina da espada que as causou.
(Manuscrito Encontrado em Accra - Livro de Paulo Coelho)

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